9º ano_ Performance
PERFORMANCE
A palavra inglesa performance
significa atuação ou sequência de gestos ou atitudes desenvolvidas por um
artista. Ela começou a ser utilizada no mundo das artes nos anos 1960 e,
justamente por ter o corpo como meio de expressão, passou a ser chamada body art
naquele momento. É difícil definir o termo, uma vez que as performances são
sempre diferentes entre si e não se limitam a uma só linguagem artística.
Talvez esse seja um dos objetivos desse tipo de arte: embaralhar as definições,
tirar as coisas do lugar e levar as pessoas a experimentar o mundo de outra
maneira. Na performance, o corpo tem uma função muito importante: é ao mesmo
tempo o espetáculo a ser visto e o lugar em que aquilo que é íntimo se
transforma. Quando já não se tem certeza se uma expressão é arte ou vida,
ocorre a performance. Desde os anos 1960, os temas comuns das performances
traziam forte carga política, priorizando o femininismo, a voz dos oprimidos, a
denúncia do racismo e das diversas desigualdades sociais e de gênero e em favor
dos movimentos antibélicos. Conceber, elaborar e realizar uma performance pode
ser um processo trabalhoso. É preciso ter um propósito, preparar o corpo para
os desafios, realizar a ação com concentração e estar atento para lidar com
eventualidades. Lembre-se: a performance precisa estar sempre aberta ao
inesperado. Uma performance pode ser inventada com base na discussão de um
grupo sobre alguma questão de seu entorno ou do seu tempo. O primeiro passo é
identificar algum assunto ou tema que se queira denunciar, problematizar ou
transformar em relação à escola, à rua, ao bairro, ao município, ao estado ou à
região em que vive. O grupo precisa debater até chegar a um acordo a respeito
de algo que incomoda a todos.
Os artistas de performance exploram as
fronteiras entre a vida e a arte. Por isso, levam gestos e atos do cotidiano
para museus e teatros e também levam situações artísticas que podem ser
encontradas em museus e teatros para ruas e praças. Muitas vezes, registram
suas intervenções em fotografias e vídeos. Por meio da quebra ou da interrupção
da rotina, tais ações questionam as certezas e as seguranças da vida em
sociedade. As performances costumam reunir diversas linguagens artísticas para
construir um acontecimento; atraem o espectador a participar da obra e
transformam o modo como ele vê os lugares e as situações com os quais está
habituado. Essa forma de arte chama a atenção para aquilo que está no entorno
de uma sociedade. Ao fazer isso, propõe uma mudança de ritmo, uma pausa nas
atividades diárias, favorecendo maior reflexão sobre questões da vida.
PERFORMANCE E DOCUMENTAÇÃO VISUAL
A valorização da ideia como centro da criação artística, a
partir da década de 1970, provocou artistas conceituais e performáticos, que
passaram a produzir obras por meio da performance, como filmes, textos, listas
de procedimentos ou, ainda, documentação fotográfica, peças impressas e
digitais. A documentação das performances é uma forma de dar materialidade às
ações, já que, na maior parte das vezes, elas acontecem em circuitos
autogeridos, isto é, sem a presença de instituições como museus e galerias.
Muitas performances são feitas por coletivos de artistas, ou são trabalhos de
colaboração eventual entre dois ou mais artistas. Por isso, a documentação
visual torna-se uma etapa fundamental para preservar a memória e divulgar algo
transitório e presencial para um público maior.
O QUE É PERFORMANCE?
Hélio Oiticica, Parangolé P15 Capa 11 (Incorporo a revolta), 1967.
(Técnica mista, série Parangolés.) “Vestida” por Nildo, um morador da
comunidade da Mangueira.
Criados na década de 1960 pelo
artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980), os parangolés são compostos
de camadas de estandartes, bandeiras e capas coloridos. Para se tornarem
objetos artísticos, os parangolés precisam ser vestidos pelo espectador, que se
torna um participante. A obra não é a capa em si, mas a experiência de vesti-la
e dançar. A inspiração para os parangolés veio da vivência do artista com
sambistas e passistas da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, do Rio
de Janeiro (RJ). Esse encontro fez Hélio Oiticica perceber que muitas de suas
questões artísticas eram também políticas. Era preciso pensar a relação da arte
com as pessoas e a cidade, enfrentando as segregações criadas pelas
desigualdades sociais e os preconceitos raciais. Em 1965, Hélio convidou
integrantes da Mangueira a desfilar com parangolés em uma exposição que aconteceria
no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), mas a direção do museu
impediu a entrada deles. Os artistas ficaram do lado de fora e realizaram no
gramado do museu uma das performances mais conhecidas da arte brasileira. Você
se considera questionador? Já teve o desejo de enfrentar as desigualdades? O
que é mais questionador nessa obra de Oiticica?
As performances da artista sérvia Marina
Abramović (1946-) trazem situações em que seu corpo ou sua vida íntima são
expostos. Com isso, ela fica em uma posição vulnerável em relação ao
espectador. Por vezes, suas criações expõem seu corpo e sua consciência a
riscos – foi o caso de Rhythm 4, de 1974, quando desmaiou após aspirar ar em
excesso de uma bomba pneumática. Em The House with the Ocean View [A casa com
vista para o oceano], a artista morou durante doze dias em uma galeria em Nova
York, nos Estados Unidos. Lá, recriou três cômodos de uma casa, sem nenhuma
barreira que protegesse sua intimidade do olhar do público. Bebendo somente
água e sem comer nada, a performer explorou os limites de seu
corpo e de suas emoções. O espectador, por sua vez, deixa de apenas contemplar
a obra e é induzido a pensar em sua posição diante da fragilidade do outro.
Marina Abramovic, na casa com
vista para o oceano
https://catanduvanaoesquece.files.wordpress.com/2015/05/0017.png
Mais sobre Marina Abramovic_👇🏿https://www.culturagenial.com/marina-abramovic-obras/
Nas performances de Berna Reale (1965-), situações cotidianas ganham uma aparência fantástica e situações bizarras parecem reais. A violência é um dos temas frequentes na obra da artista, que também trabalha como perita criminal em Belém, capital do Pará. Muitas de suas performances são criadas para se tornarem fotografias ou vídeos, misturando realidade com ficção e tendo seu corpo como elemento central. A fotografia Os jardins Pensus da América sugere que ações militares disseminam a morte pelo mundo. A imagem denuncia com ironia a violência cotidiana, que tem sido naturalizada na sociedade. Vários elementos na fotografia são ambíguos, isto é, remetem, ao mesmo tempo, a dimensões contraditórias como infância e guerra, vida e morte. Por que você acha que os elementos usados pela artista sugerem contradição? Quem ganha com as guerras cultivadas em nossa sociedade?
Na performance
Nimbo/Oxalá de Ronald Duarte (1963-), um grupo de pessoas aciona o jato de
vários extintores de incêndio ao mesmo tempo, formando uma imensa nuvem que
envolve os presentes. A performance, que foi feita pela primeira vez em 2004,
acontece em roda, aos sons de atabaques e cantos sagrados, como uma espécie de
ritual coletivo. Nos candomblés e em outras religiões de matrizes africanas,
Oxalá é o orixá criador, dono da paz e alheio a toda a violência. A névoa
produzida é associada a ele por causa da nuvem e da cor branca. O artista
expressa sua espiritualidade em seu trabalho, desenvolvendo um rito pacífico e
de limpeza coletiva, como uma celebração de reconhecimento do valor da vida.
Você acha que este ritual pode ser associado à limpeza? Por quê?
Eleonora Fabião, performance Ação Carioca #1: converso sobre qualquer assunto, da série Ações cariocas, Largo da Carioca, Rio de Janeiro (RJ), 2008.
Em 2008, Eleonora Fabião (1968-) levou duas cadeiras de sua cozinha para o Largo da Carioca no centro da cidade do Rio de Janeiro. A performer sentou-se descalça em uma delas e escreveu em um cartaz a seguinte frase: “Converso sobre qualquer assunto”. Com essa ação, a artista chamou atenção para a relação entre os habitantes da cidade, aproximando pessoas que não se conhecem. Conversar na praça com um desconhecido é também um convite para olhar de um modo diferente os lugares pelos quais as pessoas passam todos os dias e para os desconhecidos que se cruzam, mostrando interesse pelo outro. Eleonora Fabião diz criar seus trabalhos pensando em ações que “geram o mundo em que quero viver” e ações que “impedem o desenvolvimento desse mundo”. Ela fez a mesma performance em outras cidades do Brasil e do mundo. Sobre que assunto você conversaria com Eleonora?
CORPO, PERFORMANCE
E FESTA
Rituais e festas de uma
comunidade também podem ser considerados performances. No Carnaval, por
exemplo, e em distintas manifestações populares e de culturas afro-brasileiras,
o corpo é o foco; música, dança e artes visuais se encontram, e a comunidade
participa ativamente, vestindo indumentárias específicas e assumindo novos
papéis, diferentes das posições sociais que as pessoas ocupam no cotidiano. Nesses
casos, a performance mantém uma tradição, porque tem data e regras
predefinidas. Além disso, é uma forma de resistência, por renovar tradições e
culturas ameaçadas de desaparecer em razão da globalização, do aumento das
cidades ou mesmo de formas de racismo e preconceito. Em geral, essas
performances usam a dança, a música, os adereços e a palavra para reviver
conflitos que existem nas relações sociais de uma comunidade. Um exemplo disso
é a congada, festa que surgiu entre os séculos XVII e XVIII entre os africanos
escravizados trazidos para o Brasil. As congadas misturam temas da história dos
povos africanos que se preservaram na oralidade com mitos portugueses e crenças
cristãs. Nas congadas, encena-se a escolha e a coroação dos reis do Congo antes
de uma missa em homenagem a algum santo católico. Ela faz referência ao antigo
reino do Kongo, que existiu onde hoje é Angola, com o qual os portugueses
fizeram contato no século XV e de onde saiu grande número de pessoas
escravizadas. Nesse reino, existia um grande e poderoso soberano chamado
Manikongo, cuja memória sobreviveu entre as pessoas que foram tiradas daquele
lugar. No Brasil, a Congada reúne músicas e instrumentos de origem africana,
convivendo com rituais do catolicismo, enquanto as letras fazem referência
tanto aos mitos católicos quanto à memória e à ancestralidade africana,
representada na figura do rei. Até hoje acontecem congadas em diferentes
estados brasileiros, sobretudo em Minas Gerais, no mês de outubro, quando se
homenageia Nossa Senhora do Rosário.
APOSTILA COMPLETA👇
https://youtu.be/R5ly7Jel6DI?t=85
https://catanduvanaoesquece.files.wordpress.com/2015/05/0017.png
https://www.culturagenial.com/marina-abramovic-obras/
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